sábado, 15 de outubro de 2011

Nove minutos

Parece que devo voltar a escrever ficção. E inventar que tenho um filho. E inventar que talvez, não sei, tenho uma doença em fase terminal. E inventar que estou a escrever a este filho, um filho que acabará de inventar, nem mesmo nove minutos de vida ele tem. Direi que daqui há dezoito anos ele precisará tomar alguns cuidados, filho: você se cuidará. Cuidará que nada estrague sua pele. Fique o mínimo possível exposto ao sol. Mas nunca deixe de sentir o pôr-do-sol esfriar na pele, e descer suas costas. Todas as meninas que gostarem de você: ame-as. Ame-as como se fossem uma só. Ame várias ao mesmo tempo, mesmo que elas te venham a te odiar devido a isso, te odiaram por que você amará demais e isso é te amar muito. Escute tudo o que puder. Escute axé e escute bossa-nova. Esteja por dentro de todos os Hit's mas quando tiver uma tarde de sábado livre busque canções que foram sucesso há quatro décadas atrás. Fale o máximo possível nas aulas da faculdade. Mesmo nas disciplinas chatas, interligue o que você escutou ao que você assistiu no seu seriado preferido com o que o professor acabou de ensinar, relacione tudo o que vier na sua mente como se uma informação tivesse nascido pra outra. Junte tudo num campo só. Os pais dos seus amigos morrerão um dia. Você estará no trabalho no dia do enterro. E no final do dia não deixe de ir na casa do seu amigo abraça-lo e enquanto o abraça feche os olhos. Os melhores abraços são esses. Fechamos os olhos e sentimos a batida do coração do outro se harmonizar com o nosso, como uma melodia sobre a lealdade. Os amigos. Os amigos são como frutas, em determinada estação você fica empanturrado com elas, depois elas diminuem a demanda, e um dia volta. Quando sofrer de amor: Primeiro tente pedi-la em casamento, se ela aceitar, compre um espumante e depois de um dia de trabalho, chame-a pra ver um por-do-sol e comemorem só os dois. Depois quando ela engravidar compre outro espumante, chame-a pra ver um por do sol e comemorem os três. Quando perceber que ela está cansada com as atividades do dia-a-dia, compre outro espumante, chame-a para ver mais um pôr-do-sol. E enquanto houver espumantes e sol à se por, repita isso sempre. Pois um dia infelizmente não sentirá o sabor do espumante, e pior quando ela não tiver quem chamar para ir ver um pôr-do-sol. Há! E se ela não aceitar? Se ela não aceitar, meu filho. Você provavelmente sofrerá, sofrerá bastante. Mas enquanto sofre, encontre no sofrimento músicas, filmes, livros. E coma-os. Há e suplico que você dance. Cozinhe. Plante. Logo, logo você irá ver esse passado. E lembrará a letra das músicas de có, o enredo do filme de trás pra frente, recomendará bons livros à uma futura pretendente e terá uma linda arvore crescendo no seu quintal. Chame seus irmãos para ir almoçar com você. Elogie seus vizinhos. Dê presente aos seus colegas de trabalho. Dê bom dia a todos. Mesmo quando o dia for triste, chato, tédioso. E Quando o dia for triste, chato e tedioso: Ligue o som bem alto e dance. Aumente o som até você ouvir o BUMBUMBUMBUM da caixa de som. Melhor perder 5 minutos dançando antes de ir pro trabalho, do que perder o dia todo se atrapalhando e emburrado pelos cantos. Mude as garrafas de água da geladeira todo mês. Não fiz um terço do que estou falando. Mas prometo que dentro de nove minutos farei

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