domingo, 13 de novembro de 2011

Onde os filhos são gerados?

Hoje nós a vemos quase nua. Desfilando em ingenua devassidão. Rasga-lhe sempre risos descontrolados, se emprestou uma alegria impossível. Ela ri. Daqui desse bar, goles me ajudam a tragar essa crença. De pensar que empreguei essa moça, de pensar que desprezaram essa moça.
Um dia ela surgiu, interessada, empenhada. De uma honestidade e cabelos puros. Ela não virou prostituta. Longe disso. Jamais sucederia isso na vida dela. Mas ela se tornou outra. E o outro é impactante, principalmente em si. Sei que entrou na empresa, e começara a desempenhar um bom papel. Era querida pelos colegas, todos sentem muita falta dela. Nunca chegou sorridente demais nem excessivamente triste, nunca. Ela gostava muito daquele local e sua energia era boa. Eram 18:00 e ela ainda estava muito disposta a continuar nos seus oficios. Não gostava de ir embora, era a única. Um dia ela chegou dez minutos atrasados. Justificou a falta dizendo que tinha feito uma mudança. Apartir desse dia ela já saia no horário correto. Permaneceu irrepreensível, entretanto fazia somente seus deveres. Olhava mais vezes para o relógio, percebi isso. E era um olhar introspectivamente alegre. Ela queria ir embora. Antes ela não queria, agora quer. Até que um dia ela chegou dez minutos antes, trajava um vestido azul claro, muito meigo, muito lindo. Assim que ela chegou, o telefone tocou ao que atendi. Era a sua mãe, que se apresentou com o nome de Joana não reconheci o nome, mas o sobrenome era o mesmo. Contou-me que havia dias que sua filha havia desaparecido, disse:
- Avisa a essa ordinária que meu remédio de diabetes acabou. Que é pra ela vir aqui urgente. Não sei como você aguenta essa estúpida trabalhando com você.
- Darei o recado a ela sim senhora - Rezei isso umas duas vezes assustado.

Cintia - Assim chama aquela que esta parada do outro lado da rua.

Dei o recado, momento onde ela, olhou a janela e choramingou. Ofereci água, ela recusou. Esperei em silencio os pouquíssimos instantes que foram necessários para ela se recompor. o vestido azul era lindo, mas não era seu uniforme. Dizia ela que queria demissão. Pedi para ela reconsiderar o seu emprego. Ofereci aumento.
- Seu salário poderá dobrar em alguns mêses.
- Sinto muito, não da para continuar.
- Mas você é tão bem quista pelos colegas, todos gostam de você aqui.
- Esse é o meu problema. Não mereço ser querida. Sou um monstro, odeio minha mãe.
Não soube o que falar. Mas falei:
- Você tem outra perspectiva finançeira? Um outro emprego em vista?
- Meu parceiro irá me financiar no meu próximo projeto. Não se preocupe.
Alterei minha voz, fiquei um pouco mais rude. Tentei assusta-la dizendo que muitos estão desempregados, muitos gostariam de ter a oportunidade que ela estava tendo, mas...
- Quero demissão. Serei traficante de drogas apartir de hoje. Quero a pior vida que um ser humano puder ter. Terei o que eu mereço. Não posso viver uma vida bonitinha quando aqui em mim eu sou terrível, QUERO DEMISSÃO! Urgente!
E saiu porta a fora. Rumo àquela esquina ali.
Todos soam a voz dos pais. Quando desprezados os filhos querem se desprezar assim como fazem os pais, eles acreditam em tudo que os pais falam. Reza a lenda que filhos são gerados no últero da mãe, e sua personalidade são geradas na língua dos pais.

Nenhum comentário:

Postar um comentário